Em uma indústria que movimenta bilhões de dólares por ano, anunciar uma possível proibição de comercialização de qualquer produto, gera um estado de alerta em vários setores desse mercado, desde o produtor até o consumidor final. Um, pelo dinheiro que poderá perder, o outro pela performance que poderá perder. O primeiro é justificado, afinal, estamos falando em milhões de dólares a menos em caixa, já o segundo, talvez não tenha tanto a perder quanto acha.
Os boatos de uma possível proibição da venda de suplementos a base de BCAA, trouxe a tona novamente essa questão. A proibição seria embasada no fato de que o suplemento não produzia os efeitos prometidos de fornecimento de energia.
Na realidade, a ANVISA não proibiu a venda de suplementos a base de BCAA, apenas modificou sua classificação, não mais os considerando alimentos destinados a esportistas de alto rendimento. Tanto é assim, que eles continuam a venda nas prateleiras das lojas, já que apesar de não apresentar suficientes comprovações do seu papel ergo gênico, não foi constatado nenhum mal causado a saúde pela utilização desses aminoácidos.
BCAA é a sigla em inglês para Branch Chained Amino Acids(aminoáciod de cadeia ramificada), sendo estes a Leucina, a Valina e a Isoleucina. Fazem parte do grupo de aminoácidos chamados essenciais, ou seja, o organismo não tem capacide de sintetizá-los, por isso precisam ser ingeridos na nossa dieta regular. Dos 20 aminoácidos alfa, que constituem todas as proteinas e peptídeos, 8 são essenciais.
Além disso, os BCAAs diferem-se dos demais aminoácidos por serem metabolizados principalmente no músculo esquelético e em menor escala no fígado. A enzima que indica os níveis de catabolismo dos BCAAs, a B.C.Keto Acid Dehydrogenase, apresenta-se muito mais ativa nos músculos esqueléticos que no fígado(Norton,2005).
SÍNTESE PROTÉICA, ANABOLISMO E RECUPERAÇÃO MUSCULAR
De todas as funções dos BCAAs no nosso organismo, destacamos o seu papel fundamental na síntese de proteinas. Em conjunto com os demais aminoácidos, essenciais e não essenciais, eles tem participação direta na transcrição do DNA e tradução do RNA mensageiro, estimulando a síntese protéica. Daí a importância de manter níveis adequados de aminoacidos no organismo durante todo o dia, principalmente os essenciais. As dosagens diárias estipuladas em estudos, ficariam entre 10 e 20g, podendo variar ainda mais, conforme intensidade do esforço e biotipo, lembrando que o BCAA é encontrado em carnes e suplementos protéicos, e não somente na forma de suplemento isolado.
Durante a prática de exercícios, os BCAAs são os aminoácidos mais oxidados (Shirmomura et al., 2004). Isso com a intenção de ajudar a manter os níveis de energia estáveis, ja que o organismo degrada esses aminoácidos para oferecer mais carbono como fonte direta de energia, e nitrogênio para o processo de neoglicogenese. E para suprir a demanda durante os treinos, o corpo busca esses aminoácidos no tecido muscular, criando uma situação catabólica, já que os BCAAs perfazem mais de 30% dos aminoácidos que constituem nossos músculos.
Quando suplementamos com BCCA, principalmente antes do treino (Marangon, Corrêa, Lacerda, 2010), suprimos essa demanda, evitando a captação deles nos múculos e promovendo um estado mais anabólico. Também aceleramos assim, o processo de recuperação muscular, demonstrado em estudo publicado pelo Journal of Nutrition, onde a suplementação com BCAA antes de exercícios de agachamento, causou uma diminuição na dor muscular tardia (DOMS-delayed onset muscle soreness) e na fadiga muscular.
LEUCINA
Talvez a leucina seja o mais importante dentre os três aminoácidos que compõe o BCAA. Algumas pesquisa indicam que ele é utilizado mais rapidamente que os demais durante exercícios intensos. Em um estudo relacionando a sintese proteica muscular após o exercício, três grupos distintos foram comparados.
Um ingeriu somente carboidratos antes do treino, o outro carboidratos e proteínas e o terceiro carboidratos, proteínas e leucina. Os resultados demonstraram um balanço nitrogenado maior no terceiro grupo. Uma das explicações seria que os altos níveis de leucina, aumentaram as concentrações de insulina, ajudando na sintese proteica. Eles também descobriram que a leucina ajuda a interromper o processo de catabolismo muscular, provavelmente pelo aumento nos níveis de secreção de insulina. Além disso, estudos demonstraram que a suplementação de leucina em conjunto com a valina e a isoleucina, promove um aumento significativo nos níveis plasmáticos de glutamina no período de recuperação pós-treino, uma vez que servem de substrato para síntese deste aminoácido(Blomstrand et al, 1995).
Para Freund and Hanani (2002), a oxidação completa da leucina provê mais moléculas de adenosina trifosfato que a oxidação completa da glicose. Assim, a leucina é capaz de abastecer os músculos esqueléticos com mais ATP do que uma mesma quantidade de glicose. Isso corrabora com o fato de a leucina ser um aminoácido totalmente cetogênico e metabolizado na mesma via dos ácidos graxos.
FADIGA CENTRAL
Segundo Davis (2000) a hipótese da fadiga central baseia-se no fato de que, durante atividades físicas intensas e prolongadas, haveria um aumento da captação de triptofano pelo hipotálamo, resultando num aumento da síntese de serotonina, e essa concentração maior de serotonina no hipotálamo poderia desencadear o processo de fadiga. A sensação de desmotivação é a principal característica da fadiga ocasionada pela serotonina, e tem sido denominada fadiga central.
Alguns estudos teriam demonstrado um retardamento dessa fadiga central, quando da utilização de suplementos a base de BCAA por praticantes de atividades físicas intensas de longa duração. Isso porque estes aminoacidos concorrem com os mesmos receptores celulares do triptofano livre. Sendo assim, quando houvesse níveis elevados de BCAA disponíveis, estes concorreriam com o triptofano livre, diminuindo sua captação, e evitando um aumento na síntese de serotonina, que poderia desencadear um indesejado processo de fadiga. Mas em revisão bibliográfica publicada por Higino(2009), os estudos relacionados ao assunto continuam divergentes, impossibilitando uma opinião conclusiva sobre o assunto.
Professor e treinador Thiago Muller
Contato: thiagoironmuller@hotmail.com
0 comentários:
Postar um comentário